Centro socioeducativo produz máscaras de proteção contra covid-19


Luiz Gustavo*, de 16 anos, nunca tinha tocado em uma máquina de costura. Agora, ele e mais quatro adolescentes que cumprem medida de internação no Centro Socioeducativo de Uberaba, no Triângulo Mineiro, estão produzindo máscaras de tecido como proteção contra a covid-19. 

Em uma semana de produção, os adolescentes fabricaram 478 itens, que serão distribuídos para os demais jovens e servidores da unidade. O material restante será encaminhado para a Subsecretaria de Atendimento Socioeducativo (Suase), da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp), que enviará para outras unidades socioeducativas do estado. A expectativa da direção é que a média de produção alcance 500 máscaras por semana.

Aprendizado

A descoberta de um novo aprendizado, aliada à ação social, mudou os dias de Luiz e seus companheiros. Agora, além de saber costurar, eles também estão ajudando pessoas a se protegerem da covid-19. “No começo foi difícil, agora já estou me saindo muito bem. Me surpreendi com a minha facilidade em aprender tanto o corte quanto a costura", conta Luiz. "Estou gostando muito de fazer as máscaras, contei para a minha família e eles ficaram felizes e orgulhosos. É muito bom poder aprender algo e ao mesmo tempo ajudar a outras pessoas”.

A direção da unidade adaptou uma sala para instalar a oficina de máscaras. No local, há quatro máquinas de costura e uma máquina de corte. O tecido usado na produção, 170 metros, foi enviado pela Sejusp. Também foram disponibilizados recursos para compra de elásticos, linhas e outros materiais.

O diretor-geral do Centro Socioeducativo de Uberaba, Wilson Junior, destaca os benefícios que a tarefa tem proporcionado aos jovens, incluindo gratificação pessoal. “Encaro a tarefa na oficina como algo altamente pedagógico, como uma integração, tanto dos adolescentes quanto dos servidores, com o momento de necessidade social. É uma oportunidade de mostrarmos o nosso engajamento com a causa e de dizermos que nós também nos importamos. Entendemos o quanto até mesmo as pequenas ações são úteis”, afirma.

Os adolescentes são instruídos por três servidoras, a diretora de Atendimento, Rubiane Santos, a supervisora de Segurança, Edilaine Oliveira, e a técnica de enfermagem Adriane Silveira. Além de unir setores tão distintos em prol de uma causa, a iniciativa também conta com apoio de outros funcionários do centro socioeducativo.

A diretora de Atendimento, que aprendeu a costurar na infância, com a mãe, avalia que ensinar os jovens tem um valor especial. “Por conta da minha vivência, poder replicar isso aqui está sendo uma experiência muito rica. Nós ficamos apreensivas inicialmente, com medo de ter mais erros do que acertos, mas nos surpreendemos com o envolvimento e o empenho deles. E isso tem auxiliado muito no cumprimento da medida, dá para fazer uma leitura pessoal de cada adolescente e percebemos como a ação tem trazido mudanças benéficas para eles”.

Trabalho educativo

A produção de máscaras no sistema socioeducativo tem um viés educativo. O objetivo é desenvolver as habilidades dos jovens, além de capacitá-los. A fabricação dos itens começou no Centro Socioeducativo de Sete Lagoas, no final do mês de abril, inicialmente com material descartável. De lá pra cá, mais dez unidades, incluindo Uberaba, iniciaram o projeto usando tecido 100% algodão.

Até o momento já foram produzidas mais de 27 mil máscaras, sendo 11 mil descartáveis e 16 mil laváveis de pano, por adolescentes em medida de internação nos Centros Socioeducativos de Sete Lagoas, Ribeirão das Neves, Divinópolis, Unaí, Patrocínio, Uberlândia, Uberaba, São Jerônimo, Centro de Internação Provisória Dom Bosco, Santa Terezinha e Santa Clara - os três últimos em Belo Horizonte. 

Nos próximos dias, a produção se expandirá para o Centro de Internação Provisória de Patos de Minas.

*Nome fictício para preservar a identidade do adolescente, conforme recomendação do Estatuto da Criança e do Adolescente.

Comentários