O estudo de efetividade da vacina CoronaVac, que o Instituto Butantan
está realizando sobre a imunidade da população de Serrana (SP) mostrou
que 99% dos moradores apresentaram soroconversão (desenvolveram
anticorpos para se defender da infecção por covid-19) três meses após
receber a segunda dose do imunizante.
Estes são os primeiros números da pesquisa do Butantan na cidade em que
foi realizado o Projeto S, que imunizou toda a população acima de 18
anos em fevereiro, por meio de um mutirão de vacinação.
O indicador foi superior aos resultados dos ensaios clínicos das fases 1
e 2 da CoronaVac, que mostraram soroconversão em torno de 97% e 98%,
respectivamente, dependendo da dose. Segundo o instituto, além de
comprovar, mais uma vez, a durabilidade da proteção gerada pela vacina, a
pesquisa tem o diferencial de analisar os anticorpos e a imunidade
celular no mundo real, o que, até o momento, na literatura científica,
sempre foi feito apenas em laboratório.
Os números preliminares têm como base a primeira etapa da avaliação
sorológica, em julho e agosto, quando foram coletadas amostras de 3.903
voluntários de Serrana. A segunda etapa da avaliação sorológica está em
andamento.
Quem participou da primeira fase da avaliação pode se dirigir, no sábado
(23) ou domingo (24) próximos, das 8h às 16h30, à mesma escola onde
teve o sangue coletado para ceder uma nova amostra para ser analisada. O
estudo envolve todos os maiores de 60 anos e parte dos menores de 60
anos vacinados no Projeto S, conforme aprovação do Comitê de Ética em
Pesquisa.
Um artigo científico sobre a avaliação da imunidade dos vacinados no
Projeto S deve ser publicado em alguns meses. “Já temos o número de
anticorpos dos adultos e dos mais idosos. O artigo vai contar como
estava a variação sorológica nesses últimos três meses”, diz o médico
Gustavo Volpe, um dos coordenadores do estudo e diretor técnico do
Hospital Estadual de Serrana.
A adesão dos idosos que já tomaram a dose de reforço à pesquisa tem sido
boa, e isso deve ser mostrado nos exames. “Vai ser um dado
interessante. A gente vê que a titulação [concentração de anticorpos
presente no soro/plasma] vai caindo conforme as pessoas são mais velhas.
Elas tendem a ter um título de sorologia menor que os jovens, mas, com a
dose de reforço, vamos ver se será mais ou menos igual”, ressalta
Volpe.
A partir de setembro, os moradores de Serrana que têm mais de 60 anos
começaram a receber uma dose adicional de CoronaVac como forma de
potencializar a imunidade geral contra o SARS-CoV-2 e aumentar a
proteção contra a variante delta, que começava, então, a se tornar
prevalente no Brasil.
Em seguida, os pesquisadores vão avaliar a imunidade celular dos
voluntários e entender como os anticorpos se comportam com seis, nove e
12 meses.
Volpe destaca que ter mais anticorpos não quer dizer estar mais
protegido contra a doença. “Uma pessoa pode ter dez, outra, 20 e outra,
50. Será que a pessoa que tem 20 tem mais chance de pegar a doença do
que a que tem 50? A princípio, parece ser uma coisa lógica, mas a
realidade biológica é diferente. Existem outros fatores que protegem
alguém do vírus”, acrescenta.
Em maio, dados preliminares do Projeto S mostraram que a imunização da
população adulta de Serrana fez os casos sintomáticos de Covid-19
despencarem 80%; as internações, 86%; e as mortes, 95%. De acordo com
Volpe, o número de internações por covid-19 na cidade continua baixo,
mas as medidas de proteção precisam ser mantidas.
“O que estamos vendo hoje no Brasil, de redução de internações, de casos
e diminuição de transmissibilidade, já vimos em Serrana nos meses de
maio, junho. Observar o que acontece em Serrana é essencial para ver o
que acontecerá no Brasil. Por isso que a cidade é um laboratório tão
importante: é ali que a gente consegue ver realmente o efeito da
vacina”, completa.
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