Uma parceria entre a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural de Minas Gerais (Emater-MG), Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig) e a Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ) tem como proposta viabilizar a renovação dos canaviais da região Central do estado. O trabalho visa estimular o plantio de variedades melhoradas e a implantação de viveiros a partir de mudas pré-germinadas.
Um dos segredos para a boa produtividade do canavial é a renovação periódica das lavouras, com variedades mais produtivas e adaptadas às novas tecnologias. Plantas antigas, com o tempo, reduzem o desempenho e comprometem a atividade. “Essas variedades antigas estão geneticamente degeneradas e não expressam mais todo o seu potencial produtivo”, diz o pesquisador da Epamig, Geraldo Macedo.
Daí a necessidade de o produtor buscar alternativas. Na fazenda experimental da Epamig, em Prudente de Morais, região Central, são cultivadas 16 variedades melhoradas. “Com o avanço da tecnologia, nós temos variedades superiores. Inclusive variedades resistentes a pragas e a doenças, que produzem mais biomassa e que têm o teor de sacarose mais elevado”, explica Macedo.
Na Epamig, empresa vinculada à Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa), os interessados obtêm a cana-de-açúcar inteira, que depois é cortada em toletes (pequenos pedaços) e plantada. “Essa cana inteira tem de ser cortada e transportada daqui para as propriedades. Muitas vezes há a dificuldade para o produtor conseguir o transporte, tem de trazer uma pessoa para cortar, e ele não consegue levar uma quantidade muito grande”, ressalta o coordenador regional da Emater-MG, Walfrido Albernaz.
Mudas pré-germinadas
Para facilitar o acesso do produtor às variedades melhoradas, a Emater, Epamig e UFSJ firmaram uma parceria para produção de mudas pré-germinadas. “Com esse processo, o produtor leva a muda que ele sabe que vai vingar. No sistema convencional, o produtor não tem a certeza se ela vai brotar”, diz Édio da Costa, chefe do departamento de Ciências Agrárias da UFSJ.
As variedades melhoradas cultivadas pela Epamig são levadas para a universidade, onde são produzidas as mudas pré-germinadas. Nesse processo, são plantados apenas os brotos, em um banco de areia, para germinarem. O substrato utilizado nesse banco é formado por areia e palha para conter a água. A temperatura tem um papel importante no processo.
“Quando se tem temperatura baixa, leva, aproximadamente, de 15 a 20 dias para germinar. Em temperaturas mais altas, a germinação é mais rápida. Com dez dias já tem os brotos”, informa o engenheiro agrônomo na UFJS, João Paulo Rocha.
O produtor ainda deve tomar alguns cuidados para não danificar os brotos de cana. “Ele tem de irrigar na parte da manhã e na parte da tarde. Não pode deixar de maneira alguma esse banco de areia sem umidade adequada”, diz João Paulo.
Cerca de dois meses depois, as mudas podem ir a campo. “O broto vai soltar um esporão. Quando esse esporão tiver em torno de uns cinco centímetros, ele já pode ser transferido para um saquinho ou para um tubete. Quando ele tiver três ou quatro folhas, pode levar para o campo”, explicou Édio da Costa.
Os interessados conseguem essas mudas pré-germinadas na UFSJ, campus Sete Lagoas. Mas, a parceria entre Emater-MG, Epamig e a universidade vai além. A ideia é que os produtores possam implantar viveiros em suas propriedades.
Mobilização
A Emater-MG, também órgão vinculado à Seapa, atua na mobilização de produtores e prefeituras. A iniciativa é considerada fundamental para a renovação dos canaviais da região.
“Nós temos observado que os canaviais da região têm caído de produtividade ano a ano por falta de renovação, aplicação de tecnologias e de cultivares de melhor qualidade”, afirma Walfrido Albernaz.
Treze produtores de oito municípios da região Central do estado implantaram em suas propriedades viveiros a partir de mudas pré-germinadas. Os municípios de Santana de Pirapama e Esmeraldas devem ser os primeiros a terem os seus próprios viveiros. “No viveiro a gente concentra a produção e consegue diminuir os gastos com mão de obra. A gente consegue fazer capinas e adubação num espaço bem menor e, depois, multiplicar esse material no campo”, diz Jader Resende de Albuquerque, extensionista da Emater-MG.
Rogério Chaves é um dos produtores que apostaram na ideia. Ele mora em Pedro Leopoldo. A cana cultivada em sua propriedade é toda voltada para a produção de cachaça. São oito mil litros por ano. Com o tempo, Rogério percebeu queda de produtividade e qualidade do seu canavial, decidindo pela formação de um viveiro com mudas melhoradas e pré-germinadas, em uma área de 400 metros quadrados.
“A expectativa é boa. Facilita muito em relação à adubação, ao combate aos cupins. São mais fáceis o manejo e a limpeza. Deu um trabalho um pouco maior para fazer cova, mas, por outro lado, o desenvolvimento foi melhor”, diz o produtor.
O viveiro foi implantado em dezembro de 2018. São três variedades cultivadas nele. Por enquanto, as canas não foram utilizadas na produção de cachaça.
“Agora, a ideia é replicar, fazer mudas, um novo canavial. Depois uma avaliação. Obviamente que, quando cortar, eu quero fazer uma avaliação da produtividade em relação às variedades que eu uso para fazer a cachaça”, destaca o produtor.
Os interessados em obter variedades melhoradas e conhecer o processo de produção de mudas pré- germinadas podem entrar em contato com o escritório da Emater –MG de Sete Lagoas pelo telefone (31) 3774-1273.
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