Coluna - Rotacionando para Tóquio



Em 15 dias, duas maratonas internacionais disputadas e duas vitórias. A mais recente no último domingo (8) em Los Angeles (Estados Unidos). A anterior, duas semanas antes, em Sevilha (Espanha). Este feito rendeu a Vanessa Cristina dos Santos uma indicação ao prêmio de melhor atleta de fevereiro pelo Comitê Paralímpico das Américas. A votação está aberta no site oficial da entidade até a próxima sexta neste link.

"É a primeira vez que concorro a um prêmio destes. Se falar que estou acreditando, é mentira [risos]. É um ano que entrei, como se fala, com o pé direito. Muitas vitórias, marcas boas", afirma a maratonista de 30 anos que compete na classe T54, para cadeirantes.

O esporte adaptado se tornou realidade para Vanessa oito meses após um acidente de moto que sofreu em 2014 (ela teve de amputar a perna esquerda). "Comecei no projeto Fast Wheels Kids, em Santos [SP], junto com a criançada, para aprender a andar na cadeira. Fui para os arremessos do disco e de dardo, mas a professora viu que eu tinha boa coordenação e falou com meu técnico, Eduardo Leonel. Foi aí que comecei a correr", lembra. "O esporte trouxe liberdade, uma vida que não tinha. Pude conhecer pessoas, competir até fora do Brasil", completa.

A primeira competição veio em 2015. No ano seguinte, ver de perto a Paralimpíada no Rio de Janeiro, onde torceu pela amiga e parceira de equipe Fah Fonseca (também maratonista), motivou-a a sonhar mais alto. Tanto que, em 2017, tomou uma decisão difícil: reuniu as economias que havia juntado para dar entrada em uma casa própria, mais o que arrecadou em uma "vaquinha" virtual, e comprou uma cadeira de rodas de corrida nova.

"A cadeira antiga tinha me levado a um patamar que eu não conseguiria ultrapassar [com ela]. Peguei a nova em Oita [Japão]. Não me arrependo nada do investimento, pois essa cadeira nova está me levando a lugares e pódios que nunca imaginei. Foi o momento de trocar um sonho por outro. Tomei a melhor decisão. Abri mão da casa, naquele momento, para viver esse ano o grande ano da minha vida", afirma.

Encarar 2020 com tanta expectativa não é exagero. O sonho de Vanessa é competir na Paralimpíada de Tóquio, no Japão. A marca feita em Sevilha (1h40min23s) está 37 segundos acima do tempo mínimo estabelecido pelo departamento técnico do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB), mas já atende às exigências do Comitê Paralímpico Internacional (IPC, na sigla em inglês) para a prova.

A previsão é que a paulista ainda tente a marca paralímpica na Maratona de Londres (Inglaterra) e na etapa de Notwill (Suíça) do circuito mundial de atletismo, em maio. Mesmo que não atinja o índice A (principal) exigido pelo CPB, Vanessa pode ser convocada por aproximação de tempo. "Independente do que acontecer, sei que fiz e estou fazendo meu melhor, treinando forte. Sei do meu potencial. Se não for agora, será daqui a quatro anos, em Paris [França]. É aguardar e treinar bastante", projeta.

E, após os Jogos, ela quer realizar o sonho adiado há alguns anos: "Vou poder começar a juntar dinheiro de novo para dar entrada [na casa]. É outro grande sonho, principalmente da minha mãe, que mora comigo. Deus faz tudo no tempo certo. Sei que estou no caminho".

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