Com o avanço da pandemia pelo novo coronavírus, muita gente tem recorrido ao álcool gel para higienização das mãos e de superfícies. E como o produto tem esgotado nas prateleiras, a Câmara dos Deputados aprovou recentemente o Projeto de Decreto Legislativo (PDL) 87/20, que autoriza, por 90 dias, a comercialização de álcool etílico hidratado na graduação de 70% em embalagens maiores. A proposta ainda irá para aprovação do Senado.
No entanto, o uso doméstico de álcool – principalmente o líquido – exige muita precaução, especialmente durante o período de isolamento social recomendado pelos órgãos de Saúde, em que algumas famílias estão em casa o dia inteiro e podem estar mais suscetíveis a acidentes domésticos envolvendo a utilização do produto. Todo cuidado é pouco, sobretudo com as crianças.
A questão tem preocupado a equipe da Unidade de Tratamento de Queimados (UTQ) do Hospital João XXIII – um dos centros de referência no país para esse tipo de atendimento. De acordo com a coordenadora do serviço, Kelly Danielle de Araújo, o risco de explosões é potencializado com o uso e o armazenamento de álcool em ambiente doméstico. “As queimaduras por fogo costumam ser as mais profundas e, por isso, as mais graves. Há ainda o perigo da inalação de fumaça e, por consequência, a queimadura de vias aéreas. Por isso, não recomendamos o uso de álcool para higienização da casa tampouco para assepsia de mãos em ambiente doméstico”, ressalta Kelly.
Para realizar a limpeza comum da casa, o produto mais recomendado é o hipoclorito de sódio (água sanitária) na concentração de 2,0% a 2,5%. A diluição ideal é de 1 copo (200 ml) de água sanitária para 5 litros de água e enxágue após 10 minutos. Já para assepsia das mãos, quem está em casa deve priorizar lavá-las com água e sabão, friccionando palmas, dorso, dedos e unhas por, pelo menos, 20 segundos antes de enxaguar. “O álcool gel é uma medida de higienização apenas para quem está na rua e não tem água e sabão disponíveis. Em casa, não há necessidade de utilização do produto”, reforça a médica.
No último ano, a UTQ do Hospital João XXIII realizou mais de 2.000 atendimentos a queimados, sendo a grande maioria (1.304) queimaduras causadas por líquidos quentes. Com as crianças em casa, a precaução deve ser aumentada para se evitar esse tipo de acidente. “Pedimos aos pais que tomem bastante cuidado com panelas quentes, não as deixando na beirada do fogão e sempre com os cabos virados para o fundo”, pontua a coordenadora da Unidade de Tratamento de Queimados. Outro risco, de acordo com Kelly, são as queimaduras elétricas. “Se possível, indicamos o uso de protetores de tomadas para evitar que as crianças coloquem o dedo e se queimem”, conclui a médica.
Por Fernanda Moreira Pinto
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