Os juros cobrados pelos bancos recuaram em abril, mas as novas concessões de crédito caíram no mês passado, informou hoje (28) o Banco Central (BC), ao divulgar as Estatísticas Monetárias e de Crédito.
Empresas e famílias conseguiram pegar emprestados R$ 295,5 bilhões dos bancos em abril. Esse valor total foi 16,5% menor do que o registrado em março, na comparação com ajuste sazonal. No caso das empresas, a queda foi de 21,1% e das famílias, recuo de 13,2%. Sem o ajuste para o período, a redução ficou em 31% para as empresas, em 18,2% para as famílias e em 25,5% no total.
No acumulado do ano até abril, comparado ao primeiro quadrimestre de 2019, as concessões totais cresceram 13,2%, compostas por expansões de 24,2% para pessoas jurídicas e de 4% a pessoas físicas (dados com ajuste sazonal).
O chefe do Departamento de Estatísticas do BC, Fernando Rocha, destacou que houve uma “redução importante” nas concessões em abril. “Essa redução foi além do fator sazonal”. Ele explicou que a série dessazonalizada busca ajustar as concessões pela quantidade de dias úteis de cada mês, sendo que abril teve dois úteis a menos que o anterior, além de considerar fatores que ocorrem tipicamente em cada mês do ano. “Quando a gente elimina esses fatores e torna a série mais comparável, ainda assim houve uma redução nas concessões”, disse.
Apesar desse resultado, Rocha ressaltou que as concessões para financiamento do comércio exterior foram impulsionadas pela alta do dólar em março e chegaram a crescer 300%. Assim, quando chegou abril, essas concessões se reduziram na comparação com março. “Podemos olhar isso com aquela velha metáfora do copo meio cheio e o copo meio vazio. No caso das modalidades ligadas a comércio exterior, no mês de março, tivemos um estímulo muito grande a essas concessões que cresceram quase 300%.” Ele disse que a alta do dólar “fez com que fosse mais vantajoso para as empresas anteciparem as suas operações”.
As modalidades de empréstimos são divididas em dois tipos: o crédito livre e o direcionado. No caso do crédito livre, os bancos têm autonomia para emprestar o dinheiro captado no mercado e definir as taxas de juros cobradas dos clientes. Já o crédito direcionado tem regras definidas pelo governo, destinados, basicamente, aos setores habitacional, rural, de infraestrutura e ao microcrédito.
Crédito livre
As concessões do crédito livre para empresas e famílias chegaram a R$ 265 bilhões, em abril, com queda de 28,3% na comparação com março. No caso do crédito para as empresas (como desconto de duplicatas, antecipação de faturas de cartão, capital de giro entre outros), o recuo chegou a 33,7% e para as pessoas físicas, a 20,8%.
Crédito direcionado
Já as concessões do crédito direcionado chegaram a R$ 30,5 bilhões, com aumento de 14% em relação a março. O crescimento para as empresas foi de 36,7% e para as pessoas físicas, de 3,4%.
Taxas de juros
Com as reduções seguidas da taxa básica de juros, a Selic, os juros cobrados das empresas e famílias se reduziram em abril.
A taxa média de juros para as pessoas físicas no crédito livre chegou a 44,5% ao ano, queda de 1,7 ponto percentual em relação a março. Já a taxa média das empresas ficou em 15,8% ao ano, redução de 0,8 ponto percentual na comparação com o mês anterior.
A taxa do crédito pessoal chegou a 86,4% ao ano, com recuo de 8,3 pontos percentuais em relação a março. Os juros do crédito consignado caíram 0,9 ponto percentual para 20,1% ao ano. A taxa do cheque especial chegou a 119,3% ao ano, queda de 11,2 pontos percentuais. Os juros médios do rotativo do cartão de crédito chegaram a 313,4% ao ano, com queda de 13,7 pontos percentuais.
Inadimplência
A inadimplência total chegou a 3,3% em abril, aumento de 0,1 ponto percentual em relação a março. No caso das empresas, a inadimplência ficou em 2,3%, crescimento de 0,2 ponto percentual. As pessoas físicas tiveram inadimplência de 4%, aumento de 0,1 ponto percentual.
Saldo
O estoque de todas as operações de crédito do sistema financeiro ficou em R$ 3,587 bilhões, em abril, estável em relação a março, em decorrência da expansão de 1,2% na carteira de pessoas jurídicas (saldo de R$ 1,555 trilhão), compensada por redução de 0,9% no saldo de pessoas físicas (R$ 2,032 trilhões). No ano, o saldo do crédito cresceu 3,1% e em 12 meses, 9,6%.
Segundo Rocha, o saldo do crédito para pessoas jurídicas foi impulsionado pelo desempenho do capital de giro, a principal linha do crédito livre para as empresas. “O capital de giro permaneceu crescendo em abril, o que pode ser interpretado por demanda das empresas por capital mais curto para passar por um período de incerteza”. Já no caso das pessoas físicas a redução na demanda por crédito é explicada pela queda nos gastos dos consumidores.
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