Feirantes se reinventam na pandemia com comércio on-line


Prejudicados pela suspensão das feiras, alguns agricultores familiares conseguem manter rendimento com uso da tecnologia

Importante mecanismo estratégico de escoamento da produção do estado, principalmente para agricultores familiares, as feiras livres estão presentes em praticamente todos os 853 municípios mineiros e já são tradição. Neste Dia do Feirante (25/8), é preciso destacar esse trabalho tão importante e que precisou se reinventar diante das medidas de isolamento social decorrentes da pandemia de covid-19.

Indispensáveis na agenda semanal da grande maioria dos moradores do interior de Minas Gerais, estas feiras foram suspensas por conta da grande aglomeração de pessoas, o que poderia elevar o risco de transmissão do coronavírus. 

“A agricultura familiar tem como característica produzir em escala reduzida, o que dificulta a comercialização. São nas feiras que esse problema costuma ser resolvido, com a venda de um alimento de qualidade, por um valor justo e diretamente para o consumidor”, explica o diretor de Comercialização e Mercados da Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa), Ranier Chaves Figueiredo.

Ele lembra do programa Aqui Tem Feira, da Seapa, que se constitui na aquisição e doação dos chamados “Kits Feiras”, que incluem barracas, jalecos, caixas plásticas e balanças, itens que possibilitam uma infraestrutura mínima para as feiras.

CAMG

O diretor Ranier Chaves destaca que a Feira da Agricultura Familiar da Cidade Administrativa de Minas Gerais (CAMG), realizada todas as sextas-feiras, chegou a movimentar quase R$ 1 milhão em um ano. “Infelizmente foi preciso paralisar as atividades, mas pretendemos retomar assim que for possível”, frisa o diretor.

Produtora de São Gonçalo do Rio Abaixo, região Central do estado, Aparecida Geralda Ribeiro, é uma das feirantes da CAMG. Entre seus produtos estão a farofa de banana e chips de batata, banana, inhame, baroa e jiló. “Antes da pandemia, cerca de 70% das nossas vendas eram nas feiras livres. Com a covid-19, nos adaptamos para atender por delivery. Tenho um sobrinho que mora em Belo Horizonte e tem uma loja virtual. Sempre que recebo um pedido via WhatsApp ou Instagram, repasso para ele, que também vende nossos produtos por aplicativos. Ainda temos representantes em Betim e São Joaquim de Bicas”, detalha .

Quem tem interesse em adquirir produtos que eram vendidos na Feira da CAMG, basta clicar AQUI para conferir a lista com os contatos de alguns feirantes que estão comercializando suas mercadorias via WhatsApp para Belo Horizonte e Região Metropolitana.

Auxílio no interior

Muitos agricultores familiares sofreram os impactos da pandemia, já que, além de não poderem vender seus produtos nas feiras, os recursos do Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae) também foram reduzidos ou inviabilizados com a suspensão das aulas no estado.

Diante deste cenário, a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural de Minas Gerais (Emater-MG), vinculada à Seapa, vem auxiliando os produtores a se adaptarem às ferramentas existentes para o comércio on-line de seus produtos. A empresa também fez um levantamento de iniciativas virtuais durante a pandemia, como explica a coordenadora técnica estadual, Ana Luiza Resende.

“A pesquisa identificou 35 experiências bem sucedidas no estado, envolvendo 1.501 agricultores familiares, que atingiram 10,6 mil clientes. O levantamento constatou as principais dificuldades: transporte das mercadorias, composição das cestas e falta de capacitação em vendas. Ao mesmo tempo, evidenciou o enorme potencial de trabalho para desenvolvimento de estratégias de escoamento da produção com o uso de blogs, redes sociais e aplicativos de venda virtual”, detalha.

A coordenadora técnica lembra que, diante da situação atual, a tendência é que o consumo de produtos saudáveis aumente e, com isso, o mercado on-line cresça e se consolide. “Isso é bom para os agricultores familiares, que ganham uma maior margem de lucro ao encurtar a cadeia de comercialização, e, também, para os consumidores, que terão acesso a alimentos saudáveis por menor custo”, garante.

Moradora de Santo Antônio do Mucuri, distrito do município de Malacacheta, Gerosina Pegos de Oliveira Duarte conta que ela e a família vendiam há 35 anos seus produtos (milho, feijão e verduras em geral) no mercado municipal da cidade. Com a suspensão do funcionamento do local, ela se viu forçada a migrar para os meios virtuais e, agora, já vem lucrando até mais do que antes.

“Antes da pandemia não vendíamos nem metade do que estamos conseguindo agora. Não era incomum a gente ter prejuízo. Hoje nós recebemos as encomendas on-line e levamos nas casas”, conta a agricultora familiar.

Ainda segundo Gerosina, foi um técnico do escritório local da Emater-MG que ajudou ela e outros produtores a criarem um grupo para a venda virtual. “Faço parte da Comissão das Mulheres da Agricultura Familiar e, quando o técnico falou para formarmos um grupo on-line, até duvidei que daria certo. Mas agora que vimos o grande sucesso que foi, tenho certeza que, mesmo quando passar essa pandemia, vamos continuar com a venda virtual”, conta.

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