O governo argentino pode anunciar nesta segunda-feira (3) um pacote
de medidas de ajuste econômico, que devem incluir a redução do número de
ministérios e demissões no setor público. Ontem (2), o presidente
Mauricio Macri se reuniu com os principais assessores para definir as
mudanças. Nesta terça-feira, a Argentina inicia a renegociação do acordo
fechado com o Fundo Monetário Internacional (FMI) em junho, e que
precisa ser revisto diante da nova crise cambial. A última semana foi de
alta volatilidade no país, em que o peso perdeu 25% de seu valor em
relação ao dólar norte-americano.
“O que estamos vivendo é uma crise de confiança – não apenas na
economia argentina e na capacidade do governo de honrar seus
compromissos em 2019, como afirmou o próprio presidente Mauricio Macri –
mas também no próprio FMI, como instrumento para nos ajudar para sair
dessa situação”, disse à Agência Brasil o analista político Rosendo Fraga.
A situação atual é diferente da transformação prometida por Macri,
quando assumiu depois de 12 anos de governos de Nestor Kirchner
(2003-2007) e de Cristina Kirchner (2007-2015).
A inflação de dois dígitos, que Macri herdou e prometeu baixar, já
deve superar os 30% até dezembro. Agora, com a última corrida cambial,
alguns economistas preveem que será ainda maior. Em um ano, o peso
argentino perdeu 104% em relação ao dólar norte-americano, que na
Argentina funciona como termômetro da economia. Quando a moeda dos
Estados Unidos sobe, os preços na Argentina acompanham, gerando um ciclo
inflacionário vicioso. E como os salários ficam atrasados, cai o poder
de compra e cresce a pobreza – algo que o próprio presidente já admitiu
que vai ocorrer.
O governo também reconheceu que o pais está a caminho da recessão,
com uma retração de 1% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2018. A
decisão, na semana passada, de elevar a taxa de juros para 60%, só
piorou o quadro recessivo. É a mais alta do mundo (quase dez vezes maior
que a brasileira, de 6,5%). Ainda assim, e apesar do empréstimo de US$
50 bilhões do FMI (o maior da história do país), o dólar parou de subir
somente depois da intervenção do Banco Central, que vendeu reservas – o
que , segundo especialistas, é uma situação insustentável a longo prazo e
difícil de administrar às vésperas de ano eleitoral.
Pesquisas realizadas mostraram que seis em cada dez argentinos
desconfiavam da capacidade do FMI em resolver os problemas do país. “Já
passamos por isso várias vezes e a história é sempre a mesma: o FMI pede
ajuste, o governo faz às custas do trabalhador, entramos em recessão e
acabamos dando o calote”, disse o aposentado Adrian Vasquez, de 76 anos.
Ele conta que um dos filhos acaba de perder o emprego e o outro teve
o salário reduzido pela metade.
Rumores
Segundo a imprensa argentina, o governo deve eliminar de dez a 12
ministerios (entre eles Ciência e Tecnologia, Cultura, Energia e
Agroindústria, que acaba de despedir 548 empregados). Macri também teria
decidido substituir o atual chanceler Jorge Aurie por seu ex-ministro
da Fazenda, Alfonso Prat Gay.
Circulam ainda rumores de que ele trocaria o atual ministro da
Fazenda, Nicolás Dujovne, pelo ex-presidente do Banco de La Nación
Argentina, o economista Carlos Melconian. A equipe econômica viaja hoje
(3) para Washington, para renegociar o acordo com o FMI.
*Colaborou Monica Yanakiev - repórter da Agência Brasil
*Colaborou Monica Yanakiev - repórter da Agência Brasil
Fonte: Agência Brasil
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