O procurador Deltan Dallagnol, chefe da força-tarefa da Lava-jato, afirmou que após ataques ao seu Telegram recebeu orientação institucional para encerrar sua conta. Por isso, ele não tem seu histórico de mensagens para comparar com os vazamentos publicados por 'The Intercept'.
Em entrevista ao CBN Brasil, o procurador Deltan Dallagnol, chefe da força-tarefa da Operação Lava-jato, disse que sempre reconheceu que sua conta no Telegram foi atacada e que o hacker obteve informações verdadeiras, mas voltou a dizer que não reconhece a autenticidade dos diálogos publicados pelo The Intercept e outros veículos de imprensa. “Várias análises mostraram que os diálogos são falseáveis. A origem são pessoas acusadas de crimes, inclusive de falsificação, e quem tem o documento com os diálogos não o apresentou para verificação”, disse ele.
O procurador disse ainda que não se lembra da íntegra das mensagens publicadas. “São cinco anos intensos de Lava-jato, trocamos centenas de milhares de mensagens, é impossível lembrar dos detalhes. A inserção ou troca de uma palavra muda totalmente o contexto”, justificou. Dallagnol também acrescentou que não é possível comparar os diálogos publicados com seu próprio histórico de mensagens, já que, segundo ele, recebeu orientações institucionais para cancelar sua conta no Telegram, o que apagou os registros de seu próprio aparelho e também da nuvem.
Ao ser questionado se algum descuido facilitou o ataque à sua conta no aplicativo de mensagens, o procurador afirmou que não, comparando sua situação à de uma vítima de estupro: “Nunca se coloca a culpa do estupro na pessoa que foi estuprada ou na roupa que ela estava usando. Se a pessoa age de forma legal, correta, não é culpada se alguém comete um crime contra ela”. Ele ainda disse que considera que a ação dos hackers foi elaborada: “Embora peritos digam que a ação não foi sofisticada, para mim, foi extremamente sofisticada, eles exploraram uma falha que eu ainda não entendi 100%”.
Para exemplificar indícios de que as mensagens podem ter sido editadas ou descontextualizadas, Dallagnol exemplificou trechos publicados que, segundo ele, não condizem com a realidade. “Os diálogos falam de uma denúncia contra venezuelanos que nunca aconteceu. Falam de um pedido de mandado de busca e apreensão contra [o então recém-eleito senador] Jaques Wagner que não aconteceu. Quiseram dizer que o objetivo era influenciar no resultado eleitoral, mas as mensagens são de dois dias úteis das eleições, seria impossível fazer o pedido, o juiz decidir e a polícia se programar”, afirmou.
O procurador disse ainda que o diálogo entre o então juiz Sérgio Moro e os procuradores da força-tarefa eram feitos de maneira ética e legal, mesmo quando fora dos autos, e disse que sua relação com o magistrado era profissional: “A alegação de que somos amigos íntimos não tem base na realidade. Nunca frequentamos a casa um do outro, não fomos a aniversários um do outro, nunca discutimos assuntos de foro íntimo”. Ele também disse que Sérgio Moro não atuou com parcialidade nos processos da operação: “A operação envolveu o [ex-presidente] Lula, [o ex-tesoureiro do PT] João Vaccari, [o ex-governador do RJ] Sérgio Cabral, [o ex-presidente da Câmara] Eduardo Cunha, funcionários da Petrobras, operadores financeiros, lavadores de dinheiro... Qual seria o interesse comum que um juiz teria em toda essas pessoas a não ser produzir justiça?”.
Questionado ainda sobre as palestras remuneradas que exerceu, incluindo para a empresa Neoway, citada em acordo de delação premiada da Lava-jato, Deltan Dallagnol disse que não agiu fora da lei. “É uma atividade legal, legítima, que leva a discussão sobre o combate à corrupção para a sociedade. Não dou palestras a empresas investigadas ou vítimas da Lava-jato, como já recusei em várias ocasiões. Quando tomei conhecimento da citação da Neoway, em meados de 2018, informei a todos os colegas, me declarei suspeito do caso”, afirmou o procurador.
Já sobre a atuação da força-tarefa da Lava-jato, o procurador Deltan Dallagnol lembrou que a validade das atividades vai até setembro, e que a renovação tem sido feita anualmente pela Procuradoria Geral da República: “É um trabalho em pleno vigor de uma equipe de mais de 60 pessoas. Só nos mantivemos unidos todos esses anos porque concordamos que a atuação da força-tarefa é ética”.
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