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📉 A Inadimplência Rural Bate 8% e Sinaliza Aperto Financeiro na Produção

  • Foto do escritor: Rádio AGROCITY
    Rádio AGROCITY
  • 12 de nov.
  • 3 min de leitura
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A escalada da inadimplência rural, atingindo 8,1% da população rural no segundo trimestre do ano (2T), conforme dados da Serasa Experian, impõe uma leitura estratégica obrigatória ao mercado. Este patamar, com viés de alta, reflete a pressão combinada de custos de produção elevados, juros em alta e a volatilidade nos preços de algumas commodities, elementos que corroem a margem de rentabilidade do produtor e elevam o risco de crédito em toda a cadeia de suprimentos do agronegócio.


Análise do Risco de Crédito e Perspectiva Financeira



🏦 Impacto Financeiro Direto: Risco e Alocação de Capital


O percentual geral de 8,1% da população rural em atraso é um indicador de estresse, mas a análise detalhada revela nuances cruciais. A inadimplência é significativamente maior nas instituições financeiras, onde atinge 7,2%, contrastando fortemente com o índice de apenas 0,3% nas empresas do próprio setor agroindustrial (como revendas, tradings e indústrias).


Essa disparidade sugere dois pontos estratégicos:


  1. Aperto na Concessão de Crédito: O alto índice nos bancos deve levar a um maior rigor na concessão de novos financiamentos e a um aumento no spread de crédito. Com a taxa de juros básica (Selic) em patamares elevados, o custo de capital para o produtor se torna proibitivo, forçando um desinvestimento ou a postergação de projetos de expansão, como já sinalizado por grandes bancos.

  2. Risco na Distribuição de Insumos (M&A e Capital de Giro): O aumento da inadimplência no campo atinge diretamente o capital de giro das revendas e distribuidores, que financiam parte da safra. Casos recentes, como a suspensão de pagamentos por grandes redes de insumos para reequilibrar o caixa, mostram que o risco está migrando da ponta final para a intermediária. Isso pode catalisar um novo ciclo de Fusões e Aquisições (M&A), onde empresas maiores e mais capitalizadas buscam consolidar distribuidores menores e financeiramente fragilizados. O valuation de revendas com alta exposição a recebíveis de risco tende a ser penalizado.


💼 Perfil da Inadimplência: Arrendatários e Grandes Produtores


A Serasa Experian destaca que arrendatários lideram os atrasos (10,5%), seguidos pelos grandes produtores (9,2%) e médios (7,8%). Embora os arrendatários tenham menor margem por dependerem do aluguel da terra, o índice elevado entre os grandes produtores chama a atenção. Ele pode ser explicado por:


  • Volume de Alavancagem: Grandes players frequentemente assumem volumes maiores de financiamentos, aumentando sua exposição a riscos e oscilações de mercado (juros, câmbio e commodities).

  • Gestão de Risco: Em um cenário de supersafra, como o visto recentemente, a pressão sobre os preços das commodities e os custos de storage e logística pode comprometer a capacidade de honrar os compromissos de dívidas mais robustas.


🌾 Inovação e Sustentabilidade como Vias de Mitigação


Apesar do cenário de aperto financeiro, a sustentabilidade e a inovação (AgTech) se posicionam como ferramentas estratégicas de mitigação de risco e acesso a crédito diferenciado.


  • Agricultura Regenerativa e Seguros: A busca por modelos como a Agricultura Regenerativa não é apenas uma pauta ESG, mas uma estratégia financeira. Há iniciativas onde o seguro rural pode ser facilitado para produtores com práticas sustentáveis. Isso reduz o risco de perdas climáticas e, consequentemente, o risco de crédito (inadimplência). Instituições financeiras e fundos de Private Equity (PE) estão atentos a essas métricas, que podem abrir portas para green bonds e outras fontes de capital mais baratas.

  • Finanças Estruturadas (Fiagro e Securitização): O mercado de capitais, via Fiagros e securitização (CRA), precisa de maior rigor na avaliação dos lastros. A alta na inadimplência reforça a necessidade de tecnologias de rastreabilidade e AgTech que ofereçam dados em tempo real sobre a saúde financeira e operacional do produtor, garantindo que o capital investido esteja realmente em fazendas com baixo risco e boas práticas ESG.


📈 Perspectiva de Mercado e Commodities


O aumento do endividamento pressiona o produtor a se desfazer de estoques ou a "pisar no freio" em novos investimentos para as próximas safras, como a redução das projeções de financiamento por cooperativas de crédito.


  • Café, Cacau e Laranja: Para commodities perenes, como Café e Laranja, o risco é mitigado por um perfil de crédito mais perene, o que tem feito algumas instituições financeiras priorizarem o crédito para estas culturas em detrimento dos grãos anuais. No entanto, a sustentação de preços em patamares rentáveis é fundamental. Um cenário de inadimplência generalizada pode levar a uma queda na qualidade e nos investimentos em renovação de pomares ou lavouras mais antigas.


Em resumo, o patamar de 8,1% de inadimplência rural não é apenas um número, mas um sinal de alerta de que o ciclo de alta alavancagem pós-safra recorde está encontrando o muro do alto custo de capital. O mercado agora se move para uma consolidação, com foco na qualidade do crédito e na busca por produtores que comprovem a eficiência de sua gestão via métricas financeiras sólidas e práticas de mitigação de risco, incluindo o ESG.


Por Rafael Terra, seu analista de Agronegócios & Finanças.

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