Chuvas Irregulares e La Niña: Clima Freia o Plantio da Soja e Coloca Projeção de Safra Recorde 2025/26 em Alerta
- Rádio AGROCITY

- há 3 dias
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Introdução
O início de novembro, crucial para o avanço da safra de soja 2025/26 no Brasil, está sendo marcado por uma perigosa combinação de chuvas irregulares e temperaturas elevadas em zonas estratégicas de plantio. Essa instabilidade climática já impõe um ritmo mais lento à semeadura e, mais importante, acende um sinal de alerta sobre o risco de estresse hídrico no desenvolvimento inicial das lavouras. O impacto imediato é o aumento da cautela no mercado e, principalmente, a elevação do risco operacional e financeiro para o produtor rural que, pressionado pela janela ideal de plantio, se vê forçado a tomar decisões complexas sob grande incerteza.
A oleaginosa, que é o principal pilar da balança comercial brasileira, tem uma safra historicamente projetada para atingir volumes recordes, com estimativas de até 178 milhões de toneladas. No entanto, o fator climático no Cerrado e na Região Sul do país se torna, neste momento, o principal ponto de interrogação. A irregularidade hídrica está diretamente ligada à maior probabilidade de ocorrência do fenômeno La Niña – caracterizado pelo resfriamento das águas do Oceano Pacífico e que tipicamente reduz o volume de chuvas no Sul e em partes do Centro-Oeste –, trazendo um cenário de volatilidade que pode comprometer a alta produtividade esperada e forçar onerosos replantios em algumas áreas.
O Desafio Climático no Campo e o Risco de Replantio
O panorama climático atual, conforme os boletins do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), exige extrema atenção e manejo preciso. A previsão para novembro indica uma distribuição de precipitação altamente desigual. Em grandes áreas da Região Sul, como o Paraná e o Rio Grande do Sul – estados tradicionalmente atingidos pela seca associada à La Niña –, os volumes esperados estão abaixo da média histórica. O mesmo se aplica a vastas porções do Mato Grosso do Sul e do centro-sul de São Paulo, onde a falta de reposição hídrica pode dificultar severamente a germinação das sementes recém-depositadas no solo.
Para o produtor, o problema não é apenas a escassez, mas a sincronia. O plantio da soja depende de uma janela hídrica confiável para garantir a germinação uniforme. O atraso na semeadura tem um efeito cascata: encurta a janela da safrinha de milho (segunda safra) e expõe a lavoura a riscos climáticos no final do ciclo. Se as chuvas se confirmarem abaixo do normal, o produtor enfrenta o dilema do replantio. Replantar significa um gasto adicional não planejado com sementes, defensivos e, principalmente, o custo do tempo perdido, elevando o custo de produção por saca.
Em contraste, áreas como o centro-oeste do Mato Grosso e Goiás tendem a receber precipitações mais adequadas, favorecendo o bom desenvolvimento inicial da soja. Essa disparidade regional sublinha a importância da gestão do risco climático. Produtores mais preparados, que utilizaram AgriTech para monitoramento de solo e previsões de microrregiões, conseguem ajustar as datas de plantio e escolher cultivares mais resilientes ao estresse hídrico, mitigando parte dos danos. A resiliência, neste ciclo, será medida pela capacidade de adaptação às mudanças bruscas de tempo.
Mercado, Cotações e a Variável Câmbio
Apesar dos riscos no campo, a dinâmica de preços internacionais e o câmbio mantêm uma pressão de margem no mercado. No cenário global, as cotações na Bolsa de Chicago (CBOT) têm se mantido cautelosas. Embora a incerteza climática no Brasil tenda a oferecer algum suporte aos contratos futuros, a pressão de uma oferta global robusta (especialmente com o crescimento de outros óleos vegetais e a expectativa de melhora na produção argentina, que deve recuar menos a área plantada do que o esperado) limita grandes saltos nos preços.
O fator mais determinante para o produtor brasileiro é, mais uma vez, a taxa de câmbio. Com os preços da soja em Chicago em patamares que não animam, a valorização do dólar frente ao real é o que tem garantido a paridade de exportação em níveis minimamente aceitáveis. Qualquer movimento de queda do dólar, sem uma correspondente alta em Chicago, significa a deterioração imediata das margens de lucro no mercado interno. A relação estoque/consumo no Mercosul, embora estável, indica um equilíbrio que não permite ao produtor brasileiro exercer muita força vendedora.
A logística de exportação, por sua vez, segue aquecida, aproveitando o ritmo acelerado de embarques acumulados nos portos brasileiros, que consolidam a posição do país como o principal fornecedor global, especialmente para a China. Contudo, se o atraso no plantio se traduzir em colheita tardia e, pior, em quebra de safra, a dinâmica de fretes e exportação pode ser afetada no primeiro trimestre de 2026, com menos volume para escoar e possíveis atrasos nas entregas de contratos forward.
Perspectivas Futuras: A Necessidade de Eficiência e Inovação
O foco do agronegócio brasileiro agora se desloca para o desenvolvimento da safra e a mitigação dos riscos de longo prazo. A expectativa de uma safra recorde de 178 milhões de toneladas para 2025/26 ainda está de pé, mas com a ressalva de que o sucesso dependerá diretamente da intensidade da La Niña e da regularização das chuvas a partir de dezembro e, crucialmente, no período de enchimento de grãos em janeiro e fevereiro.
Para 2026, o Brasil reforça seu papel de liderança no Mercosul, expandindo sua área de cultivo em 1 milhão de hectares, enquanto a Argentina recua. Esse protagonismo global, contudo, exige uma nova mentalidade. Com as margens de lucro apertadas devido ao aumento dos custos de produção (fertilizantes, defensivos) e aos preços internacionais contidos, a palavra de ordem é "eficiência".
O produtor precisa investir em tecnologias de precisão, como sensoriamento remoto e irrigação localizada, para reduzir a exposição ao risco climático. A gestão dos insumos se torna vital, buscando alternativas de defensivos biológicos e soluções que aumentem a resiliência do solo. A capacidade de produção de baixo carbono do Brasil, destacada em recentes estudos, também entra na equação, pois o mercado consumidor global valoriza cada vez mais a sustentabilidade.
Em suma, a safra 2025/26 é uma corrida de obstáculos. O primeiro, o plantio irregular, está sendo superado com cautela e tecnologia. Os próximos desafios envolverão a definição da intensidade da La Niña e a negociação de preços em um mercado globalmente abastecido. O sucesso do agronegócio brasileiro passa pela inovação contínua para transformar a incerteza climática em resiliência produtiva.
Conclusão: Fique Atento à Volatilidade
O agronegócio brasileiro navega por um período de alta volatilidade, onde o termômetro do campo – a irregularidade climática – tem o poder de reescrever todas as projeções recordes para a soja. A combinação de La Niña iminente, margens apertadas e a dependência do câmbio exige do produtor rural uma postura analítica e estratégica.
Acompanhar a evolução das condições climáticas, as cotações internacionais em tempo real e as análises aprofundadas sobre o impacto da política na economia rural são passos essenciais para proteger o capital e garantir a rentabilidade.
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