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🌳 COP30 e a Agenda Verde do Agro: O "Caminho Verde Brasil" como Estratégia de Valorização de Ativos

  • Foto do escritor: Rádio AGROCITY
    Rádio AGROCITY
  • há 4 dias
  • 4 min de leitura
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A 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), sediada no Brasil, consolida o país na vanguarda da discussão climática, especialmente no que tange à segurança alimentar global e à descarbonização do setor agropecuário. O grande destaque do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) é o Programa Caminho Verde Brasil, uma iniciativa que transcende a pauta ambiental, posicionando-se como uma robusta estratégia de valorização de ativos e otimização de capital no campo.


A meta é clara e ambiciosa: recuperar até 40 milhões de hectares de áreas degradadas em um período de dez anos, transformando passivos ambientais em ativos produtivos e sustentáveis. Esta reportagem detalha as implicações financeiras e estratégicas dessa agenda para o agronegócio brasileiro.


💰 Perspectiva Financeira: O Retorno sobre o Investimento (ROI) da Regeneração


A transição para a agricultura regenerativa não é apenas uma exigência ESG, mas um imperativo de negócios com potencial de rentabilidade superior. Estudos indicam que a transição, embora possa custar entre US$ 70 bilhões e US$ 120 bilhões globalmente, tem um histórico de sucesso por aumentar a rentabilidade das propriedades rurais ao longo do tempo.


1. Mobilização de Capital e Financiamento Verde


O Caminho Verde Brasil e iniciativas correlatas, como a RAIZ (Resilient Agriculture Investment for Net Zero Land Degradation), sinalizam um movimento estratégico para a captação de capital paciente e investimento verde internacional.


  • Fundos e Linhas de Crédito: O Governo Federal tem mobilizado recursos significativos. Há previsão de destinação de cerca de US$ 1,3 bilhão do Fundo Clima para a recuperação de pastagens, com linhas de crédito para pecuaristas com juros subsidiados, chegando a 6,5% ao ano, e prazos de pagamento de até dez anos.

  • Eco Invest: O anúncio do 2º Leilão Eco Invest, voltado à recuperação de 1 milhão de hectares, demonstra a busca por mecanismos financeiros inovadores que buscam garantir que a restauração ambiental venha acompanhada de inclusão social e produtiva.

  • Cooperação Internacional: O acordo de cooperação com a Agência de Cooperação Internacional do Japão (JICA), com previsão de aporte entre US$ 300 milhões e US$ 500 milhões, e taxas de juros reduzidas (entre 1,7% e 2,4% em Iene japonês), atesta o interesse e a credibilidade internacional no potencial de retorno desses projetos. O financiamento com taxas de juros mais baixas, como as do Eco Invest (6,5%), funciona como um incentivo financeiro direto, reduzindo o custo de capital e melhorando o payback dos projetos de recuperação.


2. Ganhos de Eficiência e EBITDA Potencial


A recuperação de pastagens e a adoção da agricultura regenerativa impactam diretamente as métricas financeiras das empresas e propriedades rurais:


  • Aumento de Produtividade: Áreas degradadas, ao serem recuperadas, elevam a capacidade de suporte de lotação da pecuária ou permitem a expansão de culturas de alto valor (grãos e bioenergia) sem a necessidade de novos desmatamentos. A otimização do uso da terra eleva a Receita Líquida e, consequentemente, o EBITDA (Lucro Antes de Juros, Impostos, Depreciação e Amortização).

  • Redução de Custos: A agricultura regenerativa, com o uso de bioinsumos e a melhoria da saúde do solo, tende a reduzir a dependência de fertilizantes e defensivos químicos a longo prazo, diminuindo o Custo dos Produtos Vendidos (CPV) e ampliando as margens operacionais.

  • Mercado de Carbono: O programa acelera a descarbonização da agropecuária, incentivando a certificação de produtos sustentáveis e a geração de créditos de carbono. Empresas como a Minerva, através da MyCarbon, já estão escalando a comercialização de créditos de carbono provenientes da agropecuária regenerativa. Isso se traduz em uma nova e significativa fonte de receita.


📈 Análise Estratégica: M&A, Bioenergia e Rastreabilidade


O Caminho Verde Brasil não é apenas uma política de sustentabilidade; é um motor de transformação estrutural para o agronegócio estratégico.


Bioenergia e Terras Otimizadas


A recuperação de 40 milhões de hectares oferece um pipeline de terras aptas para o cultivo de matérias-primas para bioenergia, como cana-de-açúcar e milho.


  • Previsibilidade de Investimento: A Lei do Combustível do Futuro, que estabelece um cronograma de aumento do blend de biodiesel até 20% em 2030, exige maior previsibilidade no fornecimento de oleaginosas. O Caminho Verde Brasil, ao transformar pastagens em áreas produtivas, reduz o risco de suprimento.

  • M&A e Expansão: Empresas de bioenergia, como a Be8 (que apurou um EBITDA recorde de R$ 599,3 milhões em 2024, alta de 74% sobre o ano anterior), buscam consolidar cadeias de suprimento mais limpas e rastreáveis. A disponibilidade de terras recuperadas e certificadas pode se tornar um fator-chave em futuras operações de Fusões e Aquisições (M&A), com prêmios de valorização para ativos com um forte selo ESG.


Rastreabilidade e Market Access


O programa impulsiona a rastreabilidade e a transparência da cadeia de suprimentos, um fator decisivo para acesso a mercados premium (Europa, Japão) e para o derisking da cadeia para grandes tradings e varejistas. Produtores participantes do programa devem seguir condicionantes ambientais, como o compromisso de não desmatar novas áreas por 10 anos e a apresentação de um balanço anual de carbono.


  • Redução do Risco Climático: Seguradoras tendem a privilegiar práticas sustentáveis refletindo isso no preço, pois entendem que a agricultura regenerativa reduz o risco climático a longo prazo. Isso cria um efeito cascata na economia, gerando valor para a descarbonização.


Café, Cacau e Laranja: Vantagem Competitiva


Para commodities estratégicas como Café, Cacau e Laranja, a adoção de sistemas agroflorestais e práticas regenerativas pode ser um diferencial competitivo na exportação, especialmente em um cenário de crescente pressão por legislação como a europeia de desmatamento zero (EUDR). A certificação de origem e a gestão do carbono no solo se tornam elementos de precificação e não apenas de conformidade.


🎯 Conclusão: De Passivo a Ativo Financeiro


O Caminho Verde Brasil é um caso exemplar de como a política climática pode ser convertida em um plano de negócios estratégico. Ao mobilizar R$ 30,2 bilhões para a restauração de áreas degradadas, o Brasil demonstra que o compromisso com a sustentabilidade é indissociável da busca por eficiência produtiva e vantagem competitiva no agronegócio global. A COP30 serve como palco para a internacionalização dessa estratégia, atraindo o capital necessário para a escala do projeto.


Você pode acompanhar mais detalhes sobre o programa no vídeo Caminho Verde Brasil: Agricultura sustentável, que explica a essência da iniciativa do Mapa para transformar áreas degradadas em terras produtivas e sustentáveis.


Por Rafael Terra, seu analista de Agronegócios & Finanças.



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