Soja 2025/26: O Coquetel de Risco (Custo Alto, Preço Baixo e La Niña) que Desafia a Rentabilidade do Produtor Brasileiro
- Rádio AGROCITY

- há 5 dias
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Introdução
A safra de soja 2025/26 está sendo plantada sob um coquetel de fatores macroeconômicos e climáticos que, juntos, prometem testar a resiliência e a gestão financeira do produtor rural brasileiro. O fato central é o descompasso crítico entre os custos de produção, que continuam em trajetória de alta, e a retração nos preços internacionais da commodity, pressionados por expectativas de supersafras globais. Este cenário de "tesoura" de preços apertando a margem, somado à imprevisibilidade do clima — com a crescente influência do fenômeno La Niña — exige uma eficiência técnica sem precedentes no campo. O impacto imediato é uma rentabilidade mais apertada, transformando o que deveria ser um período de otimismo com um novo ciclo em uma fase de máxima cautela e planejamento estratégico.
A soja não é apenas o principal produto do agronegócio nacional; ela é o motor que movimenta a balança comercial e a economia de grande parte do Centro-Oeste e Sul do país. No entanto, o contexto de mercado atual é desfavorável. As projeções mais recentes apontam que o desembolso médio por hectare para o novo ciclo de oleaginosa pode subir cerca de 4%, chegando a superar R$ 5,6 mil em regiões-chave como Goiás e Mato Grosso. Paralelamente, os futuros da soja na Bolsa de Chicago (CBOT) têm operado sob pressão, negociados abaixo de US$ 11.20 por bushel (contratos de Janeiro/26, por exemplo). Esse ambiente de custo elevado e receita projetada mais baixa está redefinindo o patamar de risco para o ciclo que se inicia, forçando o agricultor a refinar suas estratégias de hedge e manejo de risco.
A Tesoura de Preços: Por Que a Rentabilidade Aperta no Campo?
A equação do produtor rural é simples: receita menos custos deve gerar o lucro necessário para garantir o próximo investimento. No ciclo 2025/26, essa equação se tornou o maior desafio. De um lado, a força do custo de produção mantém a pressão ascendente. A despeito de uma eventual estabilização ou queda nos preços de alguns fertilizantes e defensivos, a aquisição de insumos para a safra atual e até mesmo para o ciclo subsequente (2026/27) já demonstra um movimento de antecipação e alta de preço por parte da indústria, em parte devido à valorização do dólar (cotado acima de R$ 5,30) e à dependência de importação de matérias-primas.
Acompanhando os indicadores do IMEA e CEPEA, é possível observar que, apesar dos patamares de preço da soja no mercado físico brasileiro (chegando a R$ 139,88 por saca no porto de Paranaguá, ou cerca de R$ 133,58/sc no físico do Paraná, em medições recentes), a margem de lucro diminui. O grande risco reside na volatilidade internacional. A expectativa de uma safra recorde no Mercosul, com a Céleres projetando uma produção total de 242,3 milhões de toneladas para o bloco sul-americano (Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai), é um fator de peso que tende a manter os preços globais sob teto.
Apesar da queda dos preços em Chicago, o Brasil mantém sua competitividade nas exportações, beneficiado pela paridade cambial e pela logística portuária mais ágil em comparação com os Estados Unidos. No entanto, o cenário de preços mais baixos globalmente favorece o comprador. A China, principal destino da soja brasileira, tem intensificado suas compras em meio à queda de preços, indicando que o mercado está ditado pela demanda. Para o produtor, isso significa que a janela de oportunidades para fixar preços em patamares rentáveis está se fechando mais rapidamente ou exige uma gestão de risco mais ativa, utilizando contratos futuros e opções na B3 ou CBOT para garantir uma margem de lucro antes mesmo da colheita.
La Niña em Campo: O Risco Climático Regionalizado na Soja e Milho
Se os desafios de custo e preço vêm do mercado, o La Niña representa a principal incógnita vinda do céu. O fenômeno climático, que se estabelece no final de 2025, impõe um risco climático regionalizado que impacta diretamente as projeções de produtividade. Os volumes de chuvas irregulares e mal distribuídos, conforme alertado pela Conab, já impactam o ritmo da semeadura dos cultivos de verão em algumas áreas do Centro do país.
Contraste Climático:
Centro-Oeste e MATOPIBA: De forma geral, o La Niña tende a trazer chuvas mais regulares, e até acima da média, para o Norte e Nordeste, incluindo a região do Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia). Isso é uma notícia positiva para o avanço da soja e do milho, garantindo o bom estabelecimento da safra de verão e a recuperação da umidade do solo, o que beneficia até mesmo a produção de forrageiras e a pecuária local.
Região Sul (Alerta Máximo): O grande ponto de preocupação é o Sul do país, especialmente o Rio Grande do Sul e, em menor grau, o Paraná e Santa Catarina. O La Niña aumenta o risco de estiagem e déficits hídricos significativos. Para o produtor gaúcho, o plantio de milho de verão já é considerado de altíssimo risco, levando muitos a cogitarem migrar a área para a soja, que é culturalmente mais resistente ao estresse hídrico inicial, mas ainda assim vulnerável a longos períodos de seca. O temporal recente que atingiu o Oeste do Paraná serve de lembrete da extrema volatilidade climática que exige planos de contingência bem definidos.
Este cenário climático não só coloca a produtividade sob ameaça, mas também influencia as decisões de plantio, a alocação de culturas (o milho de primeira safra, por exemplo, é vital, e o avanço no Centro-Sul atinge cerca de 67,8% da área, segundo a Safras, mas com cautela) e a necessidade de investimento em tecnologias que mitigam a seca, como cultivares de ciclo mais curto, manejo de solo mais eficiente e o uso de irrigação onde for viável. O sucesso da safra dependerá, portanto, da precisão na leitura regional do clima e da agilidade em ajustar o calendário de plantio.
Estratégias de Sobrevivência: Inovação e Uso Inteligente da Terra para a Margem
Diante do duplo desafio de mercado (preço/custo) e clima (La Niña), a chave para o produtor rural é a gestão e a inovação. O conceito de "supersafra brasileira" só será sustentável se for construído sobre pilares de eficiência.
Um dos caminhos mais promissores, que alinha crescimento econômico com sustentabilidade, é a conversão de áreas de pastagens degradadas em lavouras produtivas. Um estudo recente da Consultoria Agro do Itaú BBA aponta que a safra de soja do Brasil poderia saltar 61,5% se o cultivo avançasse em parte das áreas de pastagens degradadas. A Embrapa estima que cerca de 28 milhões de hectares de pastos (17% do total) têm potencial para essa conversão. Este movimento não implica em desmatamento e resolve uma questão ambiental, social e econômica, ao mesmo tempo que injeta um potencial de recorde de produção, com ganho adicional do dobro da safra argentina.
A AgriTech, nesse contexto, torna-se a principal ferramenta para a sobrevivência e crescimento.
Agricultura de Precisão e Manejo de Risco: O uso de dados de solo, satélites e estações meteorológicas (Agrotempo) é crucial para mitigar o risco do La Niña. O produtor precisa saber exatamente onde e quando plantar, e quais cultivares usar. O investimento em biológicos e práticas de agricultura regenerativa (como a recuperação de pastagens degradadas, que é um case para a COP 30) melhora a saúde do solo, aumenta a retenção de água e potencializa a produtividade por área.
Gestão Financeira e Comercialização: Com o mercado volátil, a dependência da venda da commodity apenas no momento da colheita é um risco inaceitável. O agricultor precisa de um plano de comercialização agressivo, fazendo vendas antecipadas (hedge) usando o mercado futuro para travar preços que garantam o pagamento dos altos custos de insumos. Mesmo que o dólar (R$ 5,36) fortaleça a competitividade das exportações, a volatilidade da moeda e os preços futuros da soja (como os de Janeiro/26, negociados a US$ 1.115,00 na CBOT) precisam ser monitorados para garantir que a margem seja fixada, protegendo o capital investido.
A união entre o avanço responsável sobre áreas de pastagem, o investimento em tecnologia de solo e o manejo estratégico do risco de preço é o que definirá a rentabilidade final do produtor brasileiro nesta safra de extremos.
Conclusão: Sintonizando a Eficiência no Agronegócio
A safra de soja 2025/26 se configura como um dos ciclos mais desafiadores da história recente do agronegócio nacional. É um ciclo que exige, acima de tudo, gestão. Não basta apenas ter uma boa colheita; é imperativo ter um excelente manejo de custos, uma estratégia de comercialização robusta e um plano de contingência para os caprichos do clima impostos pelo La Niña. O sucesso do setor produtivo brasileiro será medido pela capacidade do agricultor de transformar o risco em oportunidade, utilizando a tecnologia para otimizar o uso da terra e as ferramentas de mercado para proteger sua rentabilidade.
A Rádio AGROCITY continua ao lado do produtor, fornecendo a análise diária e as cotações em tempo real de soja, milho, boi gordo (cuja arroba tem cenário positivo para novembro) e café. Para entender como as projeções climáticas e as variações do dólar afetam sua próxima venda, e para acompanhar as estratégias de AgriTech que estão redefinindo a produtividade no campo, sintonize a Rádio AGROCITY e mantenha-se à frente no mercado!







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